quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Entrevista sobre um ano do blog!
*Como é que surgiu a ideia de fazer esse blog?
Esse blog surgiu de uma coleção de artigos produzidos muito espontaneamente à raiz de notícias lidas sobre o Brasil. Quando a gente mora no exterior talvez sinta uma maior necessidade de acompanhar e entender o que acontece em nosso próprio país. Por outro lado, a distância permite um olhar mais objetivo e até mais crítico. Sem contar que às vezes dá muita raiva mesmo de tanta loucura que acontece no Brasil. E o blog acaba sendo uma forma de canalizar tudo isso.
* Dá pra explicar melhor a questão da crítica e da raiva?
Tentamos fazer crítica construtiva, aquela que leve a pensar que as coisas poderiam ser melhores, combatend0-se portanto a letargia e certo oba-oba característico da nossa cultura. Observa-se que nos países ditos mais desenvolvidos a autocritica funciona como motor de mudanças e avanços. No Brasil parece que há sempre um excesso de otimismo e conformismo. A ideia do blog é dar uma chacoalhada, como se a gente pudesse se ver no espelho de outra forma, mais crítica. Já a raiva vem basicamente de um sentimento que muitos brasileiros possuem e nem sempre expressam: o nosso país tem um grande potencial e poderia ser muito melhor do que é. Somos um povo criativo, pacífico, multicultural. As riquezas naturais são incontáveis. O clima é fantástico. Somos um dos maiores paises do mundo. Mas somos desleixados, desorganizados, egoístas, provincianos, repetitivos, medrosos até. Passam os anos e nada parece mudar de fato para melhor. Isso dá muita raiva!
* Mas as pessoas fora do Brasil amam o país, acham o povo caloroso, curtem a música e o futebol do Brasil, existe sempre um carinho...
Sim, sim. Isso é fato. Ainda bem (risos). É esse charme do brasileiro que engole todo mundo, até nós mesmos. Mas a gente bem sabe que o país tem problemas graves e desafios muito importantes no momento. Eu citaria a violência e a desigualdade social ainda como uma grande pedra no sapato. Sem falar na educação, na saúde, no meio ambiente, na Amazônia. Tudo está relacionado.
* Melhorou alguma coisa com o governo do Lula?
Sinceramente, acho que não. E não quero ser pessimista! Sempre votei em Lula e tinha grande esperança no governo dele. Em 2003 quando ele assumiu eu até voltei a morar no Brasil em parte porque achava que o país ia mudar. Sei também que não é um presidente da república que vai revolucionar o país. Mas o governo Lula me decepcionou. A ideologia escapuliu rapidamente pelo primeiro ralo do chão. Ele não moralizou o Estado, não moralizou a política, não moralizou as práticas partidárias, não moralizou o governo, fez obra social populista, até o Fome Zero foi uma grande balela. O milagre econômico brasileiro não se reflete num milagre da cidadania, da democracia, dos direitos humanos, da vanguarda cultural, científica e muito menos social. O governo Lula foi muito infeliz. Não vai passar para a história como um divisor de águas como deveria. Uma grande pena.
* Em quem você votaria para presidente em 2010?
Na Dilma não, nem que a vaca tussa! No Serra não porque não quero mais presidente paulista, como já falei no blog tantos anos de café preto não é bom num país continental como o nosso. Precisamos diversificar os estados de origem dos nossos presidentes. Não gosto do fato da Marina Silva ser evangélica e não votaria nela só por isso, admito que sou preconceituoso com relação a essa religião. No momento, estou ainda sem candidato(a).
* Qual é o seu problema com a igreja evangélica?
Acho que é um sinal de atraso no país. Não gosto da mentalidade gananciosa, do falso moralismo, da tradição e dos costumes cegos. Detesto a falta de respeito com relação aos homossexuais, por exemplo. Odeio essa associação de fé com dinheiro, fanatismo, desrespeito. Trata-se para mim de uma praga social.
* Mas o Brasil é um país muito religioso, não?
Sim, tem católicos, evangélicos, espíritas de diversas vertentes, santo daime e uma infinidade de seitas mais. Tenho aprendido que a religião é mesmo o ópio do povo como dizia Karl Marx. Ela engessa e limita as pessoas. Muitos dizem se salvar através da religião. Prefiro acreditar que a verdadeira salvação é a consciência livre, o pensamento crítico, a espiritualidade sem religião pelo meio, a educação, a cultura, o livre arbítrio.
* Em alguns dos textos do blog você se revela um pouco esotérico e também indigenista. Certo ou errado?
Certo. Sou esotérico na medida em que tento exercer a minha espiritualidade por conta própria e de forma muito eclética, sem vínculo com nenhuma religião. Para isso funcionam muito a intuição, os sentimentos, leituras, estudos, sinais. É só ficar antenado. Além disso, não acredito numa espiritualidade separada do cotidiano, da vida real. Então tudo acaba se misturando. Quanto ao aspecto indigenista, trata-se apenas de tributo muito modesto aos nossos ancestrais indígenas, subestimados e desconhecidos em essência pela maioria dos brasileiros. Preferimos os estereótipos, as caricaturas dos índios, outra das grandes tragédias nacionais a meu ver.
* Tragédia por quê?
Porque no Brasil ninguém quer ser índio, nem africano, nem português. Então vamos ser o quê? Qual é a nossa origem? Nova Iorque? Para muitos brasileiros, sim, Nova Iorque, acredite se quiser.
* Você está falando da elite brasileira, né?
Sim, claro, da elite cuja meca é Nova Iorque. São Paulo, por exemplo, é a nossa Nova Iorque. Sinceramente, acho isso decadente.
* O que que você gosta no Brasil? Tem alguma coisa boa ainda lá?
Tem sim, família, amigos, lugares, memórias, comidas... hum! Falando no contexto do blog, o Brasil tem ótimos cientistas, intelectuais, humoristas, artistas em várias áreas. O Brasil conseguiu incrivelmente ser um celeiro de mestiçagem entre todas as raças que nada deve aos Estados Unidos ou outras nações de imigrantes do mundo nas Américas ou na Oceania. Isso é um grande capital. O país tem uma história trágica mas cheia de garra. A posição do país no cenário internacional é boa e promissora. Falta fazer o dever de casa e é nessa tecla que eu bato no blog.
* Obrigado, Francisco e Boa Sorte!
Obrigado você!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário