O presidente Lula afirmou em Pequim que um dos aspectos a favor do Rio de Janeiro como cidade candidata a sediar as Olimpíadas em 2016 (é a quarta vez que a mesma cidade brasileira deseja o impossível!) é que no Rio não há terrorismo (sic). Opino que o nosso presidente é cego, surdo ou sofre de amnésia instantânea, pode ser também que a diferença do fuso horário o tenha afetado mentalmente.
O Rio de Janeiro se transformou nos últimos anos numa das metrópoles mais violentas e caóticas do planeta, realidade mais do que conhecida e lamentada no mundo inteiro. Aliás, não se entende a não ser conhecendo bem o Brasil e o descalabro dos últimos governos do país como uma das cidades mais belas do mundo possa ter se transformado num campo de batalha entre traficantes, milícias, polícia em grande parte corrupta e governo em grande parte corrupto. Presidente Lula: o Comitê Olímpico Internacional e o mundo, através de seus embaixadores no Brasil, dos correspondentes de jornais e revistas estrangeiros, homens de negócio e visitantes de passagem pelo nosso país já sabem e muito bem que no Rio de Janeiro existe violência sim, terrorismo gerado pelo tráfico de drogas sim, um terrorismo cotidiano, cruel, fora de controle, manipulador, sem escrúpulos, inaceitável em qualquer país minimamente moderno e civilizado.
Em outra notícia leio que somente 3,5 % das verbas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, resta saber crescimento de quem) destinadas ao Rio de Janeiro foram liberadas até o momento. Sem comentários.
O Presidente Lula ao escamotear a realidade para defender a candidatura do Rio à sede das Olimpíadas em 2016 na verdade desfavorece a cidade e infelizmente não li nenhum artigo na imprensa brasileira até o momento criticando essa terrorosa declaração. Ainda mais quando se sabe que as recentes operações do exército para combater o crime organizado na capital carioca foram um verdadeiro fiasco e que estão confirmadas as relações cada vez mais suspeitosas do governo estadual com o crime (como revela a escandalosa intimidade entre o comando da polícia dos Garotinhos e o tráfico).
Lula mencionou também em Pequim que o Rio sediou os Jogos Pan-Americanos e que naquela ocasião não houve violência. Presidente: A questão não é congelar a violência durante os jogos mas sim CONTROLÁ-LA antes, durante e depois dos jogos. Meu Deus, será que é tão difícil assim? Que benefício terão os cariocas em sediar os jogos se não forem tomadas medidas estruturais que resolvam um dos problemas que mais afligem a população? Será que compensa gastar tanto dinheiro público só para dizer depois que sediamos os jogos e nada mudou? O que ficou dos Jogos Pan-Americanos para a segurança dos cariocas? Melhorou alguma coisa? Respostas a essas perguntas são chaves para a candidatura do Rio não só às Olimpíadas mas a ser uma cidade que atraia investimentos e pessoas sensatas de qualquer parte do mundo.
O Brasil precisa se curar dessa alergia histórica a tudo o que seja mudança social radical (como caminhar para ser um país com uma grande e majoritária classe média*), discussão em profundidade de assuntos de interesse nacional, coerência entre discurso e ação, etc. Somos conhecidos como o país da música, da alegria e do futebol, mas também da violência, da desigualdade social e da corrupção. Neste contexto, querer por querer sediar as olimpíadas pode parecer não mais que um capricho ou uma maluquice para quem nos observa lá de fora da casa do Big Brother mundial.
* Li na Veja e na Folha de São Paulo que mais de 50% da população brasileira já é classe média! Achei o dado milagroso demais pra ser verdade sabendo que o Brasil é um dos países com maior desigualdade de distribuição de renda do mundo! Fui atrás e descobri que esse dado só é válido para seis áreas metropolitanas, ou seja, é um dado falso se consideramos o Brasil como o todo. Não sei quanto a grande imprensa recebeu para publicar esse dado, mas que é um acinte, isso é!
sábado, 23 de agosto de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário