Países Porcos foi a expressão criada a partir das letras iniciais dos cinco países da União Europeia que estão com graves problemas na economia derivados do déficit fiscal (mais gastos do que ingressos dos governos). Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, os PIIGS em inglês, POORCOS em português. Quatro desses países são predominantemente católicos sendo a Grécia, ortodoxa.
Vou falar da Espanha porque além de ser cidadão espanhol morei neste país quase 10 anos e o caso da Espanha explica o dos outros países com ramificações (como não poderia deixar de ser) na América católica e portanto no Brasil.
Todos esses países ganharam na loteria quando ingressaram na União Europeia, um bloco econômico poderoso que investiu montanhas de dinheiro nos países menos desenvolvidos (os hoje chamados países porcos)a fim de equipará-los aos países mais desenvolvidos da Europa e portanto criar uma economia continental forte, unida e próspera. Foi uma oportunidade de ouro para esses países, muitos deles arrasados por ditaduras como a de Franco na Espanha e a de Salazar em Portugal, que duraram até a década de 70. Foram feitas muitas obras de infra-estrutura (trens de alta velocidade, rodovias modernas, renovação de cidades inteiras (a Barcelona olímpica de 1992), avanços sociais (lei sobre aborto, união civil de pessoas do mesmo sexo, lei sobre violência contra a mulher), mudanças culturais (mentalidade mais aberta e cosmopolita), enfim grandes transformações!
Quando morei na Espanha sempre sonhei que todas essas transformações pudessem ocorrer nos demais países latinos do mundo (afinal de contas somos uma mesma cultura), mas sempre ouvia que o grande motor da mudança era o fator União Europeia, ou seja, o empurrão que os países mais desenvolvidos davam aos do sul da Europa e que na América Latina, por exemplo, não existia essa força propulsora!
Os países porcos enriqueceram, aconteceu o "milagre" muito rapidamente até. Muitos cidadãos desses países viraram novos ricos e começaram a consumir viagens internacionais, ter casa própria (hipotecas) resultando no boom da construção civil, criou-se uma grande classe média, houve liberação dos costumes e até mesmo intolerância com relação a imigrantes (apesar de serem necessários para fazer o trabalho que os novos ricos não queriam mais fazer!).
Lamentavelmente a festa durou bem pouco. Países como Grécia falsificaram suas contas durante anos para dar a impressão de que tudo estava bem e que podiam continuar gastando à vontade. A Espanha não diversificou a sua economia o suficiente, turismo e construção civil concentraram o grosso da atividade e com esses setores entrando em crise o país tem agora a maior taxa de desemprego da União Europeia, em torno de 20% da população ativa! Um verdadeiro horror!
O que falhou? Do meu ponto de vista, a falha é cultural. Em nossos países católicos e na Grécia ortodoxa nos falta honestidade, garra para fazer mudanças profundas, mais talento para tudo o que é social, científico e tecnológico, estratégico. Sempre perdemos as grandes oportunidades. Somos egoístas, simplistas, levianos. Temos elites míopes, cegas quase. Temos uma igreja hipócrita, atrasada, mesquinha (um amigo meu muito acertadamente sugeriu que a Igreja católica ajudasse os países porcos a sair da crise doando parte do seu imenso e intocável patrimônio!). Isso tudo é o nosso chiqueiro!
Quanto ao Brasil, mais pano do mesmo tecido. E que pano! O gigante sul-americano ainda que chegue a ser a 1ª economia do mundo não deixará de ser um país terceiro mundista pois tem ojeriza a mudanças sociais e políticas de fundo. A nossa cultura é a da maquiagem, a do "me engana que eu gosto", a da justiça para poucos (vejam o caso Arruda), a do assistencialismo e esmola. Nesse país não existe um projeto sério de cidadania, de educação, de ética, não tem nada! Estive esses dias no Rio de Janeiro, cartão postal do Brasil e da cultura brasileira, e fiquei horrorizado com a decadência da cidade e das pessoas! Muito lixo na rua, indigentes pra todo lado, serviços de má qualidade, chuvas que alagam e matam, trânsito infernal, enfim NADA do que se orgulhar, pelo contrário,um CAOS.
A conclusão é a de que países porcos combina com países católicos e/ou latinos, desiguais, corruptos... A pocilga é cultural. As etapas de crescimento econômico beneficiam uma minoria, é tudo muito efêmero, oportunista, brega, novo rico. Tudo em nome do pai, do filho e do espírito santo. Amém.
quarta-feira, 10 de março de 2010
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