Gostaria de entrar como num passe na mágica na mente de todos os candidatos e candidatas a prefeito e vereador Brasil a fora e ver exatamente o que os motiva para ganhar no pleito de hoje. Quantos realmente tem noção da responsabilidade que representa assumir um cargo desses? Quantos têm a honestidade e o valor de fazer propostas consistentes e viáveis? Quantos tem a preparação necessária para exercer essa função na sociedade? Quantos realmente enxergam essa missão como tarefa pública? Quantos tem a visão de conjunto do Brasil e do mundo e percebem os grandes desafios do presente como o meio ambiente, a energia, a água, a economia, os objetivos do milênio das Nações Unidas?
Infelizmente, não precisa de bola de cristal para saber que a resposta a essas perguntas deixaria muito a desejar e que a maioria dos candidatos, mesmo nas grandes cidades, está longe deste ideal. Recentemente, vi uma entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizendo ao Jô Soares que um dos erros do seu governo foi não promover a reforma política. Essa reforma perambula pelo Congresso há anos e ninguém se atreve a levá-la a cabo como Deus manda, pois alguns aspectos como o financiamento público de campanhas (ideal) ou a proibição do troca-troca partidário (um verdadeiro câncer da política nacional) acabaria com parte da farsa que é a política em nosso país e isso eles não querem!
Mas as eleições de hoje têm agravantes. Pela primeira vez, pelo menos 112 municípios do país terão as eleições vigiadas pelo exército (o que a meu ver não é garantia de nada!) para evitar coerção de eleitores e outros tipos de fraude mais... Isso representa um ataque e um retrocesso para a democracia no Brasil. Por outro lado, a existência de 1 entre 5 candidatos com ficha policial também revela a degradação de um sistema eleitoral decadente onde deveria ser impossível eleger bandidos. No Brasil, o nível de bandidagem institucionalizada na política já é altíssimo e totalmente inaceitável (vide Joaquim Roriz, Paulo Maluf, realeza Sarney no Maranhão ou realeza Magalhães na Bahia, e por aí vai).
Outro absurdo do sistema eleitoral brasileiro é o voto obrigatório, o que faz com que maus eleitores sejam tentados a vender ou barganhar o seu voto, prática mais do que conhecida e aproveitada por maus políticos. Mas aqui é onde a serpente morde o próprio rabo. Segundo publica hoje a Folha de São Paulo, em todo o país mais de 128 milhões de brasileiros vão escolher os novos 5.563 prefeitos e mais de 52 mil vereadores dos municípios. Desses eleitores, somente 4,6 milhões tem o ensino superior completo e 3,3 milhões entraram na universidade, mas ainda não concluíram o curso. Em matéria de perfil educacional, o maior contingente é o de eleitores com o primeiro grau incompleto: 44,5 milhões de brasileiros (34,08% do total de votantes). Acrescentando-se a isso a baixíssima qualidade desse ensino de primeiro grau, imaginemos o resultado final. Mas o círculo vicioso é: políticos não investem em educação gerando eleitores ignorantes que continuam votando neles e em seus sucessores... Tragédia anunciada que compromete ainda mais o futuro de um país já assolado pela violência, caos urbano, desigualdade social, mão de obra pouco especializada, etc.
Está na moda falar do Brasil como país emergente, potência do século XXI, economia forte e em crescimento. Sempre me lembra o gigante adormecido da minha infância e da ditadura militar. Para mim o gigante está mais moribundo do que nunca pois acredita-se que ele poderá levantar e sobreviver somente com algumas partes vitais do corpo que estão sendo turbinadas (economia) ou recauchutadas. Trata-se de operação plástica cuja eficiência (política) ainda está por comprovar.
Adoraria que grande parte dos brasileiros fossem mais críticos e tivessem absoluta consciência e inteligência hoje na hora de votar. Será que é querer demais? Talvez, mas mesmo assim sonhar é sempre possível, aliás sonhar é preciso nesse caso.
Francisco de Castro.
domingo, 5 de outubro de 2008
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