Luz para Brasília e para o Mundo

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Um brasileiro plantando luzes no gramado do Congresso Nacional

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sábado, 6 de setembro de 2008

Uma teoria sobre índios e carma coletivo no Brasil

Acompanhei estupefato o julgamento no Supremo da legalidade da demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol, no extremo nordeste de Roraima. Digo estupefato porque somente no Brasil uma demarcação já homologada e totalmente de direito (o presidente da FUNAI, Márcio Meira, acertadamente fala de direito originário dos índios) ainda pode ser questionada na justiça.

Mas infelizmente muita terra no Brasil é propriedade dos espertos em burlar as leis ou dos que se aproveitam da inexistência destas ou da impunidade resultante da infração às mesmas. Assim foi quando chegaram os portugueses em 1500. Os colonizadores não somente invadiram as terras indígenas, como as exploraram até dizer chega e mataram milhões de índios. Esse círculo histórico criminoso continua até hoje, só que comandado por certa elite brasileira que substituiu os colonizadores.

O Brasil só será um país historicamente justo quando legalizar não só a Raposa Serra do Sol mas sim todas as terras indígenas e pedir perdão ao genocídio praticado aos nossos ancestrais. Quando mudar o currículo da disciplina História do Brasil e contar que a nossa história começou bem antes de 1500 ressaltando toda a verdade sobre as culturas indígenas brasileiras.

Um país que não respeita e reconhece a sua ancestralidade é um país ingrato, desenraízado, efêmero. Esse é um traço comum a todo o continente americano e a minha teoria é de que essa é a razão pela qual não vivemos em paz (com exceção do Canadá). Todos os demais países americanos sofrem com a violência, com a pobreza resultante da terrível desigualdade social, com uma identidade moderna que se confunde com futilidade, com a deterioração moral, ética e mesmo religiosa. Não reconhecer de onde viemos e não respeitar os nossos ancestrais traz esse carma.

Numa das reportagens que vi esses dias sobre os índios de Roraima explicava-se que segundo a mitologia deles o Universo começou exatamente lá na Raposa Serra do Sol. Imaginemos a riqueza de espírito que isso representa. No Brasil moderno descobriu-se não faz muito tempo que o vestígio mais antigo da presença humana nas Américas encontra-se na Serra da Capivara, próximo de São João do Piauí. Dra. Niéde Guidon, antropóloga francesa, criou lá um Parque Nacional (com uma coleção belíssima de arte rupestre que pode ser vista inclusive à noite) mas atualmente tudo isso encontra-se ameaçado por causa da invasão de grileiros (para variar!), falta de apoio governamental, etc., ou seja, a ladainha de sempre. Imaginemos a pobreza de espírito que isso representa.

Para terminar quero recordar a letra da música profética de Caetano Veloso chamada Um Índio:

Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias

Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá

Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro
Em sombra, em luz, em som magnífico
Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer assim, de um modo explícito
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio

Francisco de Castro